quarta-feira, 21 de outubro de 2009

Corpos possíveis



Fui convidada a escrever algo hoje para a blogagem coletiva do dia de amar seu corpo. Fiquei três dias pensando comigo, revendo e relembrando todas as queixas/elogios/depreciações que a cada dia se escuta das mulheres a respeito do próprio corpo.


As chagas de Afrodite ficaram mais visíveis e lamentosas. É triste dizer e lembrar que, em tempos em que a fé começou a ser questionada juntamente aos valores atípicos de hoje em dia, Afrodite venha a ser uma Deusa acidentalmente venerada pelo inconsciente coletivo e sendo barrada no consciente.


Eu explico: como citei no texto abaixo, Afrodite representa a energia passional, e por tal razão, mesmo com inúmeras tentativas de reprimí-la, nunca houve muito esforço para tanto. Os ideais da generosidade, da paixão intensa, da profundidade emocional acabaram sendo ofuscadas pela sexualidade/sensualidade, e pela beleza física, tátil, supérflua.


Claro que não sugiro que as mulheres se revoltem contra os padrões esqueléticos de beleza de hoje em dia, mas a minha sugestão é: Que tal se ver como você é? Descobrir quem você é e como isso se reflete em seu corpo? Sim, o corpo físico, a matéria de que somos TODOS constituídos é uma manifestação de seu interior.


Será que não estamos tentando encaixar nossos corpos em um reflexo de uma Deusa que foi confundida com o "ideal da mulher perfeita"?


O padrão esquelético tem uma longa existência da busca incessante pela Virgem, acho que foi no princípio da Cristandade, lááááá com o sexualmente afetado e ex-ladrão, Paulo. O que se intensificou horrores na medida em que as doenças venéreas surgiram, e a busca por prostitutas virgensvirou uma histeria coletiva. Tá em qualquer livro sobre o assunto, pode pesquisar. As mulheres se sufocando em espartihos, para disfarçar o ventre flácido e os seios murchos de parir e alimentar bebês, prostitutas enfiando nas vaginas esponjas banhadas em sangue para que o cliente pagasse mais caro supondo ser uma prostituta virgem.


Em tempos novos, já se considera um absurdo, ouve-se em programas da tarde, dedicados á manter mulheres domesticadas, o horror, mulheres no século passado, se esmagando em espartilhos, para que os quadris largos não denunciassem (mesmo que inconscientemente) o quando seria desvalorizada se não o usasse!


Sim, realmente, absurdo, uma nítida tentativa de sufocar (literalmente) a feminilidade. Ainda bem que acabou! Epa....acabou?


Só no meu ambiente de trabalho conheço umas 3 mulheres que mutilaram o estômago, reduzindo-o ao tamanho de uma bola de golfe. Os cirurgiões plásticos ganham uma fortuna aspriando gordura de culotes de mocinhas, e até mesmo já há casos de meninas entre 8 e 12 anos já anoréxicas. Acabou mesmo ou o espartilho foi trocado por uma nova tortura?


Comprovando a minha idéia de que a busca pelo corpo eternamente virginal, quase infantil, surge a nova idéia, a nova maravilha da tecnologia de ponta em cirurgias plásticas: a reconstrução do hímem. Ok, em certas culturas, o que não vou criticar de forma alguma, a ameaça de ser subjugada na própria família fez necessário um procedimento desses, mas e quanto às que reconstróem o hímem a casa novo casamento? Se eu tivesse agora como desenvolver mais uma linha de raciocínio, faria a análise mais funda dessa confusão.


Nessa neurose de criar os corpos impossíveis, a "mulher maravilhosamente estonteante de linda", meninas destróem o próprio corpo se recusando a se alimentar, outras mutilam os próprios órgãos (ressalvo em casos de saúde, o que direi mais à frente), em um desespero absurdo de se tornanrem a Vênus de Botticelli. Deus que nos livre de sermos Vênus de Willendorf!


E na maioria dos casos o que acontece? Mulheres lindas, porém enfraquecidas. Sem alimentar o corpo e sem saber alimentar o próprio coração. Se tão lindas, de tão estonteantes, tornam-se o antílope de couro mais cobiçado. Se vêem em uniões intáveis, infelizes, muitas vezes, reflexo do próprio desrespeito com o próprio corpo. Se tornam as "vitrines" do parceiro por quem se apaixonam. São julgadas, até por outras mulheres, como fúteis, superficiais, as tais "lôraburras". E elas, magoadas, perdidas, vingativas, taxam as outras de mal-comidas, invejosas, e por aí vai. Que mulherada maluca é essa?


São as chagas de Afrodite. Na leitura do livro "A Deusa Interior" (Roger Woolger e Jennifer B. Woolger, Ed.Cultrix), diz-se que a sexualidade sagrada de Afrodite foi substituída pela imaginária Virgem, e após algum tempo acabaram misturadas, e hoje em dia o que temos, é a Mulher Maravilhosamente Linda e IDEAL.


Como recuperarmo-nos de chagas tão profundas? O ideal é você ouvir seu próprio corpo. Ver nele o reflexo de você mesma, como mencionei acima. Muitas vezes, acabamos usando o corpo como depósito de nossas aflições. Nos rostos abaixo, lindos ou não, pode-se ver a beleza natural e a sabedoria, que traz um brilho essencial, que difere de dietas, maquiagens, roupas de grife ou afins.


Quando se está em paz consigo mesma, é possível ser feliz como se realmente é. O papo é clichê, mas é real. Quantas mulheres maravilhosas eu conheço, de mais ou de menos idade, com quilinhos a mais ou quilinhos a menos? Se algumas delas não se perdessem lamentando não se encaixarem no perfil esquelético-sexy, mas no próprio perfil, seriam tão mais felizes.


Mas eu sou apenas uma moça de 25 anos, não tão gorda nem magrela (com uma barriguinha de cerveja que me denuncia, rsrsrs)...


----->>> ela não é linda? eu acho!

segunda-feira, 19 de outubro de 2009

Círculo Xamânico



Eu lá estava, mais uma vez diante de um círculo. Sentia a aflição de uma senhora, a dureza e o medo enraizados tão forte em seu corpo de forma que seus ombros endurecidos elevavam-se como montanhas. A menina cujo coração acelerava a cada palavra do Xamã, feliz por enfim encontrar um grupo que realizava aquilo que ela só imaginava ao ler livros. A mulher vivida que estava agora, aliviada por suas "missões familiares" estavam encerradas e que respirava e vivia cada dia novo daquela nova mulher que ela mesma descobrira ser. O Xamã Marcelino, doce e simpático, com a voz mansa e o olhar carinhoso, e o Xamã Edson, com seu carinho ancião, seus olhos transbordando sorriso e sabedoria. Em consenso, todos ávidos, porém não ansiosos, em aprender e ensinar.


Antes de entrar no círculo, purificamo-nos com o M'baracá e com a fumaça de sálvia. Cada chegada era recebida com sorrisos, e a doçura presente ali, me relembrava a razão de eu estar há tanto tempo escondida na cova.


Havia sido doce e aberta demais. Não sei ser de outro jeito, e me abri, dei uma chance para um vampiro. Quando ele me atacou, o medo foi tanto que eu fugi e me tranquei de novo, estava de novo, escondida dentro da toca, lambendo feridas. Precisava agora, reaprender mais uma vez a me deixar ser.


O Oráculo me mandou a mensagem do Espaço Sagrado e do Respeito. Eu sabia. Eu não respeitava mais os limites de ninguém, a começar pelo meu próprio. Eu era de novo a Loba machucada, rosnando a todo lado. E me levei a alma até aquele círculo justamente por saber que ali, eu não iria rosnar. Estou cansada de ser brava. Estou abandonando esse personagem.


O talkin stick foi passado de mão em mão, após a jornada da criança interior. A criança que me apareceu, a Loba Véia (que sempre aparece nas minhas jornadas) que me trouxe. Ela estava de costas, num trecho mais distante da campina. A Loba me olhou e olhou para a criança, indicando a ela que eu estava lá. Ela veio, e me olhou, eu estava ajoelhada diante dela. Era uma criança linda, de cabelos lisos e negros, pele morena de sol, e olhos de "bicho preguiça". Ela me abraçou e escondeu seu rosto em meus cabelos com um esboço de sorriso. Aquele sorriso doce e meigo que só crianças sabem dar, tão espontaneamente. Seus dentes pequenos e brancos em uma linha perfeita. A abracei, fechando os olhos, e com toda a força. Ela me olhou, e aos poucos, foi ficando transparente. Uma fumaça que eu respirei fundo e deixei que me inundasse os pulmões. A doçura e a espontaneidade infantil.O carinho gratuito. A Loba Véia me olhou com os olhos ansiosos, como ela sempre me olhava quando o tambor chama. "Vamos?"..."tá seguro, pode vir...sai dessa toca, não tem perigo..."...encolhi os ombros e fui correndo com as minhas quatro patas atrás da Loba. Ela me esperava sentada diante do velho Carvalho. Encostei-me nele, e ele se abriu, e eu estava de volta ao mundo. Com o carinho, com a doçura inocente da Criança, e com a segurança de que a Loba sempre me emprestaria seu faro, e que não preciso atacar para me defender.

E foi exatamente assim como eu descrevi a minha jornada na roda Xamânica, quando peguei o talkstick...cada abraço que dei foi com o coração, e cada abraço que recebi, foi com o coração aberto.


Tocamos os tambores, dançamos em Círculo, agradecemos a Pachamama, e Wakantanka, Jurema e Jurem, ao Salgueiro e aos animais de Poder, e aos guardiões das Torres das quatro direções Sagradas.


E assim foi, quando uma pessoa, tempos depois, que não gostava de mim, virou uma grande amiga. Justamente por que eu não rosnei, dei-me uma chance de ser quem sou, e pedi-lhe uma chance de mostrar quem eu sou.


Sou a Alê Lobo e assim falei.


HO!


quinta-feira, 15 de outubro de 2009

As Deusas - Afrodite


(Resolvi começar por Afrodite não apenas por ser uma Deusa mais acessível, cuja imagem já está gravada no imaginário popular, mas também por ser uma de minhas influências mais fortes, logo, me sinto à vontade de começaar por ela, por vivenciar diversas vezes as virtudes e as vicissitudes da influência Dela, e aposto que muitas mulheres também irão se maravilhar em ver-se em diversas situações na influência mais direta, e assm, compreender a si mesma)


"Amor Cósmico" de Dante: "Que move o Sol e todas as outras estrelas"


Afrodite ocupa um lugar respeitado no Olimpo, embora a Rainha Hera a repreendesse implacavelmente, devido ao compromisso sexual licencioso. Afrodite também foi, e ainda é, uma constante no imaginário popular, assim como a energia sexual/passional sempre transpareceu no véu da moralidade histórica, sem jamais ser totalmente reprimida, na verdade. É interessante observar que Ela trocou o Olimpo pela Hollywood nas últimas gerações. Exemplos de mulheres-Afrodite são Greta Garbo, Marilyn Monroe, Liz Taylor.


Aphordite Pandemos - Deusa entre as pessoas


A reverência à Afrodite na Grécia Antiga era preservada profundamente, uma vez que a sexualidade era tida como um dom sagrado, não um bem a ser explorado. No mundo moderno, os atributos físicos da Deusa chegam a ser uma obsessão, obscurecendo sua dimensão sagrada. Nas palavras de Roger Woolger em "A Deusa Interior": "Nunca uma Deusa foi tão íntima e tão pública ao mesmo tempo!". As mulheres nascidas sob a influência Dela apreciam a sensualidade e a beleza como qualidades sagradas, e são "peritas" em civilizar a rude e grosseira energia masculina.

Por mais importante que seja a sexualidade para a mulher-Afrodite, ela sempre será a parte integrante de um relacionamento, nunca um fim por si só. É a ligação pessoal com o companheiro ou amante, a troca de prazer entre ambos que torna o sexo algo tão extático para ela.

Para se compreender (e conviver) com uma mulher-Afrodite é fundamental a capacidade de relacionar-se em um sentido amplo. Seja por quinze minutos ou por uma vida inteira, ela quer que sejamos inteiramente, sensivelmente e humanamente presentes. Se não houver um relacionamento em seu significado mais profundo, ela definha aos poucos, ou simplesmente perde o interesse.

Porém, ela não é particularmente interessada em casamento e filhos como tal. Quando tiver (se tiver) filhos, será uma mãe afetuosa e generosa, e muito pouco convencional. Mas não fará dos filhos o centro de sua vida , como Deméter faria. Ela não se interessa muito em criar raízes, e tende a ver a vida como uma eterna aventura (com um possível final romântico). Ela busca um homem sensual, ativo e desimpedido.


"Dai-me castidade e continência, mas não já!" (Santo Agostinho)


A segurança sexual e a atração que ela possui naturalmente na sociedade ainda machista e patrifocal torna-se um "mal necessário" de modo que fizeram com que a energia de Afrodite seja confinada e banalizada ao máximo, como uma prostituta, cocunbina, cortesã ou amante, focalizando apenas no sentido físico da energia puramente e profundamente passional de Afrodite. Mesmo assim, nunca se deixou de ansiar pelos dons extáticos, o amor e o prazer, assim, nunca a baniram completamente. Um dos problemas mais sérios nesses casos é o fato de que outros atributos da Deusa acabaram subjulgados, ou mesmo ignoradoso que faz muitas mulheres sob forte influência Dela se sentirem inadequadas, ou se vêem como meros objetos sexuais e alvo de idolatrias vazias. Já bem disse Marilyn Monroe: "Esse negócio de ser sex-symbol é uma coisa; e eu não sou uma coisa!"

Os atributos de amor e prazer são intimamente ligados à inspiração, as artes e a sensibilidade, que acabaram sendo atributos negligenciados por osmose.

A mulher Afrodite é uma sensualista ousada e sem pudor. Ama as coisas que lhe despertam os sentidos: perfumes (particularmente os de flores),as roupas com toque gostoso na pele, comidas finas, etc.

Quando ela está presente em um relacionamento amoroso, dissipará todas as couraças e defesas, nos deixando totalmente desarmados e abertos. Quando nossa armadura se vai, as partes sensíveis e suscetíveis à dor ficam à mostra. Ficamos tentados a nos fechar de volta e todas essas reações são diante do afloramento dos sentimentos há muito enterrados. Se dermos a nós mesmos a chance de ficarmos a sós com ele, Afrodite acrescentará uma boa pitada de tolerância e paciência.

Afrodite acaba sendo uma Deusa explorada por meio de sua imagem em meios de comunicação em massa. A troca da carnal mulher homenageada pelos trovadores pela Virgem, a mulher ideal pelo patriarcado causou uma das mais profundas chagas de Afrodite: mesmo não sendo a Virgem que está sendo deliberadamente lançada aos Céus, a mídia não vem fazendo exatamente isso com Afrodite? Não estamos transformando a Deusa em um ideal corpóreo, absolutamente inatingível da Mulher Perfeitamente Linda?

Para que Afrodite possa recuperar seu respeito, é preciso que ela tenha de volta seu próprio corpo, ou seja, toda mulher que busca a consciência perdida da Deusa deve começar o amor e acalentar seu próprio corpo como ele é, não em termo de algum ideal do que ele deveria ser. E os homens, parar de comparar toda mulher desejável com algum retrato interior impossível que trazem dentro de si.

Um ditado judaico diz que Deus quer o coração. Em verdade é o que poderíamos afirmar de Afrodite.: a Deusa quer o coração, o que simboliza tudo que é autêntico e verdadeiro em nossas menos defendidas profundezas. E quando dois corações estão abertos um ao outro, a magia de Afrodite pode fluir entre eles. Quando os canais estão abertos,a Deusa está verdadeiramente presente entre nós.

segunda-feira, 27 de julho de 2009

Da arte de viver

Encontrei esse texto no Terra Mística, e me emocionei com ele....deixo aqui para compartilhar, como sempre faço com as coisas que me agradam e me são úteis, podem ser úteis a vocês também...
Espero que gostem, e que brotem das sementes destas palavras, muitas raízes e pequenas mudas de reflexão!




Se você quer um título universitário para compensar um complexo de inferioridade, abra mão do complexo, pois ele é algo artificial.

Quando você cursa uma universidade, não faz aquilo que você quer fazer. Você descobre o que o professor quer que você faça para receber o diploma e faz isto. Se você quer o título para dar aulas, o ideal é fazer o curso da maneira mais rápida e fácil. Tendo recebido o diploma, aí você expande a sua educação.

Recebi uma bolsa de estudos na Europa, e fui cursar a Universidade de Paris. Estava dedicando-me ao francês e ao provençal medievais e à poesia dos trovadores. Quando cheguei à Europa, descobri a Arte Moderna: James Joyce, Picasso, Mondrian - toda aquela turma. Paris, em 1927-1928, era outra coisa. Depois, fui à Alemanha, comecei a estudar Sânscrito e me envolvi com o hinduismo. Depois Jung enquanto estudava na Alemanha. Tudo estava se abrindo - deste lado, daquele lado. Bem, a minha dúvida na época foi: "Devo voltar para aquela garrafa?" Meu interesse pelo romance celta se fora.

Fui à universidade e disse: "Olha, não quero voltar para aquela garrafa". Tinha feito todas as matérias necessárias para o título; só precisava redigir a maldita tese. Não me deixavam ir para outro lugar e dar prosseguimento aos estudos, e por isto eu disse, vão para o inferno. Mudei-me para o campo e passei cinco anos lendo. Nunca tirei meu Ph.D. Aprendi a viver com absolutamente nada. Estava livre e não tinha responsabilidades. Foi maravilhoso.

É preciso coragem para fazer aquilo que você deseja.

Outras pessoas têm um monte de planos para você.

Ninguém quer que você faça o que você quer fazer.

Eles querem que você embarque na viagem deles, mas você pode fazer o que quiser.

Eu fiz isto. Fui para o mato e li durante cinco anos.

Foi entre 1929 e 1934, cinco anos. Fui para uma pequena cabana em Woodstock, Nova York, e mergulhei. Tudo que fazia era ler, ler, ler, e tomar notas. Foi na época da Grande Depressão. Eu não tinha dinheiro, mas havia uma importante distribuidora de livros em Nova York chamada Stechert - Hafner, e eu escrevia e pedia livros para eles - os livros de Frobenius eram caros - e eles me mandavam alguns exemplares, e eu não pagava. Era assim que as pessoas agiam durante a Depressão. Eles esperaram até eu conseguir um emprego, e então eu os paguei. Foi um gesto muito nobre. Fiquei realmente grato por eles.

Li Joyce, e Mann e Spengler. Spengler fala de Nietzsche. Vou a Nietzsche. Então, descubro que não se pode ler Nietzche sem ter lido Schopenhauer, e por isso vou a Schopenhauer. Descubro que não se pode ler Schopenhauer sem ter lido Kant. Então, vou a Kant.- bem, concordo, você pode começar daqui, mas é bem difícil. Depois Goethe.

Era excitante ver que Joyce estava na verdade, lidando com o mesmo material. Ele nunca menciona o nome de Schopenhauer, mas posso provar que esse foi uma figura importante na forma como Joyce construiu seu sistema.

Depois leio Jung e vejo que a estrutura de seu pensamento é basicamente a mesma de Spengler, e fico reunindo todo este material.

Não sei como passei esses cinco anos, mas estava convencido de que ainda sobreviveria a mais alguns. Lembro-me de uma ocasião em que tinha uma nota de um dólar na gaveta de uma cômoda, e eu sabia que enquanto ela estivesse ali, eu ainda contaria com meus recursos. Foi bárbaro. Eu não tinha responsabilidade, nenhuma. Era excitante - escrever meus comentários no diário, tentar descobrir o que eu queria. Ainda tenho tudo isto. Quando leio esse material hoje, não consigo acreditar. Na verdade, houve momentos em que quase pensei - quase pensei - "Caramba, gostaria que alguém me dissesse o que eu tenho de fazer", algo assim Ser livre, implica tomar decisões, e cada decisão é uma decisão que altera o destino. É muito difícil encontrar alguma coisa no mundo exterior que se ajuste ao que o sistema dentro de você tanto anseia. Hoje, sinto que tive uma vida perfeita: aquilo de que precisava apareceu justamente quando eu precisava. Na época, eu precisava viver sem emprego durante cinco anos. Isso foi fundamental.

Como diz Schopenhauer, quando você analisa sua vida em retrospecto, tem a impressão de que seguiu um enredo, mas, no momento da ação, parece o caos: uma surpresa atrás da outra. Depois, mais tarde, você vê que foi perfeito. E tem uma teoria: se você estiver seguindo seu próprio caminho, as coisas virão até você. Como é seu próprio caminho, e ninguém o percorreu antes, não existe um precedente; logo, tudo que acontece é uma surpresa, e na hora certa.

Nota: (SOBRE JOSEPH CAMPBELL:

Em março de 2004 comemorou-se o Centenário de Nascimento de Joseph Campbell. Pesquisador, professor e escritor, Campbell foi um dos grandes intérpretes do mito do nosso tempo, fazendo-nos ver que os mitos não são histórias "de ontem" ou de deuses esquecidos, mas renovam-se diariamente como nossos sonhos e nossas energias.)

segunda-feira, 23 de março de 2009

Tupã Tenondé


Fonte: Tupã Tenondé
Ñe'e Porã Tenondé (Nossas Primeiras Palavras Formosas)


Nossa primeira canção
Criou-se por si mesma
Na vazia Noite Iniciada

As Sagradas Plantas dos Pés
O pequeno assento arredondado
do Vazio Inicial
enraizou Seu florescer

Círculo desdobrado da Sabedoria individual
fluiu-se Divino todo Ouvir
As Divinas palmas das mãos portando o bastão de poder
As Divinas palmas das mãos feito ramas floridas
Tramam o Imanifestado, na dobra de Sua evolução
No meio da Primeira Grande Noite

Da Divina coroa irradiavam
Flores plumas adornadas
em leque
Em meios ás flores plumas floresce
a coroa-pássaro
do pássaro-futuro,
luz veloz que paira
em flor e beijo
que voa, não voando

Nossa Primeira Canção criava
futuro colibri, no curso de sua evolução, seu Divino corpo
Existia no entando em meio aos primeiros Ventos futuros
Como coruja dentro da noite Primeira
olhava-se revoando
seu futuro firmamento, sua futura terra, brisas surgidas
enquanto colibrizava vidas
dos ventos produzidos, do Imanifestado
que fora um colibri

Nossa Primeira Canção
Antes de haver-se criado,
no curso de sua evolução
sua futura morada,
sustenta-se no vazio
Antes que existisse Sol
Ele existia pelo reflexo de seu próprio coração
e fazia-se servir de Sol dentro de sua própria Divindade.

sexta-feira, 6 de março de 2009

O poder da fala


Eu sempre me apresento como uma grande tagarela. Muitas vezes que acabo de conhecer alguém, tamanha a sintonia que conto a minha vida inteira, e me deixo aberta a ouvir a vida da outra pessoa. Nessa troca de informações, acabo cedendo de tudo: onde estive, onde errei, onde acertei, quando adoeci, o que aprendi, tudo!
Tem quem veja isso como um defeito, e eu já não sei se concordo. Um dos pilares do Xamanismo é a tradição oral, o contar histórias. Grande parte das heranças que temos do Xamanismo (Celta, em particular) foram transmitidos de avós para netos, pais para filhos, em volta de fogueiras, ou mais pra frente, no aconchego da sala de estar. A tradição oral, ao meu ver, embora não pareça logo de cara, tem uma força imensurável se comparada á tradição escrita. Mesmo com as ferramentas de hoje em dia, internet, jornais, livros, a tradição oral ainda é, de uma foma tímida, porém poderosa, uma excelente forma de enriquecer as tradições mais antigas e nosso mito pessoal.
Ora, pensando melhor...se até mesmo, no episódio mais infeliz da minha vida recente,que foi a depressão, o tratamento consistia em quê? Conversar. Um ouvido amigo, uma boa terapeuta, em que eu pudesse confiar em contar os segredos que mais me envenenavam, e assim, ser curada. O poder de uma longa conversa é indescritível. Peço licença aqui pra "roubar emprestada" algumas palavras do Lobo do Cerrado

No nosso modo de ver, a palavra é um dom que vem direto do Grande Espírito. Por meio dela, nos temos o dom de criar. É através da palavra que nos manifestamos tudo. Independente da língua que falamos, nosso intento se manifesta por intermédio da palavra. Tudo que sonhamos, sentimos e o que somos é manifestado mediante a palavra.


Por conta destas e outras, as pessoas quando são articuladas, tagarelas como eu, ao invés de ceder ao senso-comum de que "em boca fechada não entra mosquito", repensar, até que ponto ser uma pessoa comunicativa é um dom, e quando vira um fardo? Na minha opinião, quanto mais nestas horas conseguirmos ser instintivos, melhor. Se o "faro" diz que a pessoa não vai entender, nem perca tempo. Nem verbo. Ouça. Muitas vezes, ouvindo estamos falando. Estamos dizendo a pessoa que a entendemos, que há atenção.
Falar é um dom que, aprendi recentemente, poucos dominam. Muitos falam apenas por falar, não reconhecem o sopro de inspiração divina que provém das palavras ditas. Aprenda a usar este dom, desenvolva-o. Se você tem muito pra dizer e ouvir, lógico que tem muito a aprender e a se curar, como no caso da depressão, se não tivesse a quem conversar, as feridas jamais fechariam. Muitas vezes uma ferida se manifesta no silêncio. Saber reconhecer o momento de calar e o momento de dizer é um dom enriquecedor, a ser reconhecido e desenvolvido.

sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009

Mitos, doçura e reflexões diante do espelho


Desde muito nova, eu sempre gostei de Mitologia. Me lembro que a primeira história que li foi a de Eco, a jovem ninfa que Hera condenou a apenas repetir o que ouvia, depois de distrair a Rainha com sua conversa animada para que Zeus desse suas puladinhas de cerca.
Foi a primeira vez que eu “saquei” a Mitologia. Que eu peguei a idéia do que singifica cada símbolo, a lição de cada história. E alguns poucos anos depois, comecei a vivenciar os mitos. Mais uns aninhos mais prá frente, conheci O cara: Joseph Cambell...primeiro com o Heróis das Mil Faces, O Poder do Mito, e outros livros devorados em série. Alguns emprestados, outros comprados, outros, pior...alugados!
Ontem mais uma vez, o mito foi vivenciado de uma forma ao mesmo tempo acalentadora e assustadora: o mito de Sedna, a Mulher-Esqueleto, que chegou sem aviso no ritual, e a Fêmea Selvagem, da qual até sinto há um bom tempo a proximidade mas nunca sei se chego perto ou se me afasto. A verdade é que sempre observei meus comportamentos e titudes e sempre notei que eles são muito próximos ao comportamento de um bicho-do-mato tentando se adaptar á urbe.
A visualização me trouxe uma imagem bacana, a Loba que me aguardava na caverna me dizia com o olhar ansioso “você não vem? O que deu em você? Vem, sai daí, você já tá boa, vai por mim!”. E eu lembro de sair de dentro da caverna de tão assustada, com a barriga raspando no chão. Me lembro de chegar num rio e ver meu rosto no rosto da Loba. E pensar comigo...”uau...essa aí...sou eu?”...queria ter contado mais sobre isso na aula, mas estava um pouco dispersa. E realmente de uns tempos pra cá, eu tenho me recolhido demais...sempre tem q ir pra casa. É como se eu estivesse machucada e não quisesse ficar vulnerável por aí. Como se eu não tivesse mais garras pra sair rosnando pra meio-mundo. Essa insegurança, a Loba me esperava na frente da caverna. Ela sabe que eu estou melhor. E ela me chama pra sair da caverna, mas ela vai na minha frente, protegendo. Querendo ou não, ainda não sou Loba-véia. Ela é. Ela sabe todos os caminhos , sabe orientar e proteger. Sabe até que ponto eu me defendo e até que ponto eu começo a rosnar sozinha. O fato é que eu tenho uma tendência fortíssima a ser solitária. Me acostumei com isso, e o problema é justamente ter virado questão de honra. Ou eu fico meses a fio escondida, ou saio rosnando...não que haja alguma ameaça bem ali, mas por garantia, é melhor sair garras e dentes. Esconder a doçura. Esconder a fragilidade. Sublimar tais características numa raiva doentia.
É.......já tem um tempo que eu tô dizendo que o mato tá me chamando....e tá UIVANDO dessa vez, nem tá chamando. Chega de ser a Lobinha boba, que rosna, rosna, fica atenta e aí, passa por enrascadas que por uma teta ela não acaba se arriscando. Não, tô na hora de sair. Voltar pro meu habitat. Certa de que, não importa onde eu for, tenho uma Loba-velha, uma selvagem sábia para me acompanhar. E me acostumar a ter companhia ;-)...
Levei um pequeno “insulto” ontem na aula. Uma me disse que eu sou doce, a outra me disse que eu sou bonita, a outra diz que eu sou fofa, meiga, etc e etc.....além de me matar de vergonha (não sei lidar com isso gente, sorry se pareceu alguma coisa ruim), eu sempre me sinto meio “desafiada” quando me elogiam. Um pouquinho de timidez, talvez, quem sabe? E hoje me peguei o dia todo martelando: mas que raios...eu me lembro de ser doce...em algum momento na vida...quando foi que parei? É impressionante, depois de tanto tempo que vivi na defensiva por diversas situações em que obscureci a doçura e o carinho para me tornar uma voraz devoradora, uma predadora feroz, hoje em dia, já nem entendo mais tão bem o significado de doçura. O mais engraçado é que depois de perguntar e conversar com muitas pessoas, todos vêem e conhecem um aspecto meu doce, frágil, e até meigo! Só eu que não achei isso em mim mesma ainda!

sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009

Anam Cara - 2a parte


"Somos tão privilegiados por ainda dispor de tempo. Temos apenas uma vida, e é uma lástima limitá-la por medo ou pr falsas barreiras.
É belo imaginas que a verdadeira Divindade é a presença em toda beleza, unidade, criatividade, escuridão e negatividade estão harmonizadas.
Ás vezes a grande escassez de bênçãos em nós e á nossa volta origina-se do fato de não estarmos levando a vida que apreciamos, de estarmos, antes, levando a vida que se espera de nós. Perdemos o ritmo coma secreta assinatura e luz de nossa Natureza."

Ontem mesmo, eu conversava com a Andréa e, em mais um de vários retrospectos e devaneios, compreendi que, por mais que nós pensamos que somos fortes e únicos, muitas vezes a necessidade de ser aceito, de fazer parte de um grupo, torna-se uma voz hipnótica, que fecha os ouvidos para a voz da alma. É neste momento que acabamos perdendo a identidade, e sob o efeito da urgência de ser aceito nos dissolvemos em um determinado grupo. Quando isso acontece, o risco é chegar em um ponto onde o indivíduo já não sabe mais onde é o seu fim e o início do outro, ////////o efeito devastador é que, ao abdicarmos de nós mesmos, a possibilidade de fazer parte do grupo vira um jogo de roleta-russa, onde as possibilidades de fazer parte de um grupo deiguais é de 1 em 100. Na maioria das vezes, a mulher se anula, e, não correspondendo ao meio que ela se impôs, acaba solitária, por não faezr parte daquele meio, e abandonada de si mesma.Episódios de abandono de si mesmo deixam armadilhas por toda parte.É como se fosse uma série de ritos de passagem durante a vida para a pessoa encontrar-se com si mesma. Sempre há expectativas e exigências de fora que acabam em nossas mãos. A mãe tem suas expectativas, os colegas de trabalho, companheiros e amigos,
Tentar desesperadamente viver os papéis que cada um espera de você é um desgaste enorme de energia. Quando tentei viver de acordo com o meio social que cismava que eu PRECISAVA conquistar, tudo na minha vida em particular dava errado. Tudo era difícil, sofrido, tudo podia desmoronar a qualquer instante se eu não agisse, e rápido. A forma que eu encontrei de “libertação” começou por distinguir o que havia realmente de problemas, quais deles existiam e quais deles eram apenas imaginários. Antes de me envolver em situações difíceis entre familiares,a migos, conhecidos, o mais prático e efetivo é pensar: “O que nisso tudo é realmente meu?”. É assustadora a quantidade de vezes em que a resposta para esta pergunta é “Nada”.
Ao viver em função do meio social em detrimento de si próprio, a vida acaba sendo anulada. Mas ela continua acontecendo. Ao se abandonar em função de outros grupos, a própria vida fica ás moscas. A mente se ocupa em resolver o mundo de fora, e o de dentro fica abandonado.
Viver feliz não é uma meta. O mais importante é que, antes de qualquer outra pessoa, a sua própria vida há de ser vivida PLENAMENTE. Encontrar o equilíbrio entre a euforia, e a apatia, permitir-se sofrer, identificar seu sofrimento e sua alegria, e aprender mais de si mesmo com eles, é viver plenamente. Se permitir viver é viver plenamente.
Conheci uma pessoa que sempre que eu tinha problemas me dizia: “Você ainda é nova, dá pra resolver”. E começava a contar seus dramas pessoais e dificuldades profissionais. O problema ´foi ter chegado a uma idade avançada e ao olhar para trás, descobrir o quanto sua vida mal foi vivida. Ele não estava no centro de sua vida. O centro de sua vida era a carreira, era a ambição. E ele girava em torno disso. O ideal é ser o centro da sua vida. O resto que gire á sua volta, você trabalha sua vida e seu destino. A vida tem um prazo de validade, e cada momento deve ser apreciado, pois até mesmo a luz e a escuridão, todos tem a sua beleza divina. A natureza das criaturas de Deus (seja lá como você chame!) é admitir que não são apenas parte da Criação, mas também somos os Criadores...abdicar da própria Natureza, é abdicar-se de si mesmo. Ao abdicar de si mesmo, a energia criativa se esvai e se esconde cada vez mais profundo, ficando cada vez mais difícil de encontrar quando é necessário.
Então, reavalie: o que é a sua vida, o que não é? Você está vivendo os momentos do dia a dia em sua intensidade? Você enxerga a beleza da vida, emprega suas energias e forças criativas no que quer, ou a entrega nas mãos de outrem?

quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009

Ritual de proteção




Tenho o hábito de sempre seguir meu faro. Coisa de bicho mesmo...escuto aquela voz baixinha lá dentro me dizendo: vai ali...é assim...canta....toca...e obedeço como se meu corpo estivesse adormecido...
Cheguei em casa, e um dos sticks de ervas que estavam pendurados no telhadinho de casa caiu bem na minha frente. Automaticamente, fui á cozinha, peguei um fósforo...joguei o álcool dentro do caldeirão, peguei meu tambor e comecei a tamboricar....
ianá hey, hey ô....ianá hey hey ô....sentia minha mente espiralando pra dentro e para fora de mim...deixei o tambor ao lado do caldeirão, peguei o stick de ervas e queimei, andando pela casa, em todos os cômodos, minha mão parecia orientada a espalhar a fumaça das ervas, para cima, para baixo, e em círculos, leste-oeste-leste-oeste...entrei nos quartos...fui ao quintal...lá, deparei-me com uma linda Lua Cheia, e o céu limpo, um manto de Ísis bordado com estrelas brilhantes. Abri meus braços e me apresentei á Avó Lua. Pedi pela proteção de todas as minhas conquistas, pedi pela preservação e o bem-estar de mim e de meu iguais, agradeci aos espíritos que ali estavam comigo, e aos que já habitam aquela casa bem antes de eu chegar lá. Agradeci aos meus gatos pela companhia, e proteção. Agradeci á Loba que ali estava, ao meu lado, tranquilamente. E á Águia que sobrevoava meu lar, e de longe veio para me trazer notícias do que estão lá, tão distantes de mim.
Deixei as luzes de fogo queimando no jardim, agradeci ao limoeiro que guarda a casa, e aos seres que ali vivem. Devolvi as ervas para a Terra, agradecendo-lhes o sacrifício, fui ao meu quarto, e ali, coloquei numa mesinha o incensário, uma xícara com água, um pratinho com flores e a uma vela. agradeci aos elementos e aos elementais, ao Povo do Mundo Verde e aos meus animais e espíritos de poder, aos protetores e meus ancestrais. Fui dormir, pela primeira vez em meses, fui dormir em paz. E hoje, acordei estável o suficiente para relatar aqui este belo chamado da Terra, a Grande Mãe, que sussurrou no meu ouvido logo que cheguei em casa, a quem eu precisava me conectar (ela mesma) para ter de volta a paz e a plenitude que tanto prezo.

Anam Cara


Há mais ou menos 6 anos, comprei o livro Anam Cara - Um Livro de Sabedoria Celta, de John O'Donohue...indico, pois além de ser um ótimo "guia" em diversas situações e emoções na vida, é um livro cuja leitura desperta. A partir da observação sensível do autor, redescobrimos diversas sensações já esquecidas pelo cotidiano.
Segue abaixo alguns dos vários pensamentos que o livro me despertou a partir de certos trechos:

"UM DOS MAIORES PECADOS É A VIDA ANULADA

Na tradição Ocidental, aprendemos muitas coisas acerca da natureza da negatividade e da natureza do pecado, mas nunca nos disseram que um dos maiores pecados é a vida anulada. Somos enviados ao mundo para viver integralmente tudo o que desperta dentro de nós e tudo o que nos sucede. É uma experiência desolada estar junto ao leito de morte de uma pessoa que está cheia de arrependimento. Ouvi-la dizer como adoraria ter mais um ano para fazer as coisas com que seu coração sempre sonhara, mas julgava que nunca poderia fazer antes de se aposentar. Sempre adiara o sonho do seu coração. Há muitas pessoas que não levam a vida que desejam. Muitas das coisas que as impedem de ocupar seu destino são falsas. São apenas imagens em sua mente. Não são de forma alguma obstáculos verdadeiros. Nunca devemos permitir que nossos medos ou as nossas expectativas de outros determinem as fronteiras de nosso destino."

É uma reação perfeitamente normal paralisarmos de medo diante de uma situação difícil, particularmente quando nos deparamos com uma mudança de rumo inusitado na nossa história. Uma mudança brusca de paradigmas, crenças, uma morte, qualquer forma de mudança. Tememos e sofremos porque a zona de conforto não existe mais e a vida nos pressiona para um novo caminho. a opção sempre é: ou estagnamos assim que encontrarmos no caminho uma nova zona de conforto, até que sejamos mais uma vez, expulsos dela, ou nos arriscamos em percorrer o caminho. O problema é que a zona de conforto não dura, pois nela, não há movimento. Identificar o que nos causa medo, o que nos paralisa, quais perigos se repetem, é procurar esta fluidez. Identificando o desconforto, se é real ou não, que nos possibilita identificar a nós mesmos e as verdadeiras dificuldades e nos acertarmos com elas. Muitas vezes as dificuldades não necessitam de solução para serem superadas. Basta identificá-las e aceitá-las como uma parte da nossa história pessoal.
Muitas vezes a zona de conforto é nos espelhar nas expectativas do outro. Um amigo, um companheiro(a), um amor, nunca será amor se não aceitar que cada um deve ter seu próprio caminho. Duas pessoas caminham lado a lado, mas cada uma tem seu próprio trajeto e aventuras a seguir. A intenção toda de se ter um Anam Cara, um amor, um amigo da alma, é ter o apoio de outrem para seguir seu caminho. Ao se envolver com uma pessoa, devemos sim, apoiá-la em suas metas, decisões e conquistas. Deve-se ter cuidado, pois a armadilha aqui é confundirmos as aventuras de outra pessoa com a nossa. Cada um tem seus méritos e suas conquistas. O amor está em reconhecer a beleza do caminho de outrem, e em seguir a beleza de nosso próprio caminho.
Muitas vezes eu disse para amigos meus que o meu maior medo é chegar numa determinada idade e descobrir, ao olhar minha vida em retrospecto, que não tive história nenhuma. Conheci várias pessoas assim. Que se contentaram em nascer, estudar, fazer faculdade, buscar sucesso profissional, e sair de vez em quando pra espairecer. Não tenho pretensões de criticar, e nem posso, já que nunca vivi assim, portanto, não faço idéia de quais prazeres e quais tristezas isso causa.
Em família, levei muitas chamadas por naõ me importar com sucesso profissional. Me contento em ter o que preciso. Isso foi dolorido, invariavelmente, por mais que sejamos pessoas fortes, e determinadas, uma certa quantidade de pressão, e quando vemos, estamos expostos e vulneráveis a todo tipo de crítica. Aí que eu comecei a viver uma vida que não era minha.
Não há nada de errado em não se ter os mesmos objetivos e metas que o senso-comum. Basta identificar quais objetivos te pertencem e quais são investidos em você por fora.
Com todos os erros e traumar que me permiti na minha vida, não me arrependo de nenhum sofrimento e de nenhuma alegria. Com elas que aprendi a separar o que é meu e o que não é. O ideal, para mim, não é viver feliz. Mas sim, viver plenamente. Cada momento, cada tristeza, cada alegria.

sexta-feira, 6 de fevereiro de 2009

Totem - A Águia Careca (Bald Eagle)



A Águia...


Recentemente entrei em um relacionamento que está sendo mais do que especial, e estranho, é que numa das conversas com a minha “nova” companheira de jornada (com tudo que temos trocado desde quando nos conhecemos, DUVIDO que seja nova companheira), saiu da minha boca o questionamento sobre o que uma águia poderia significar pra mim, num aspecto religioso. Ela olhou bem pra mim e disse: “voa, voa pra bem alto, pra longe”. Então fiquei pensando e a tal da Águia não saiu mais da minha cabeça. Nas últimas meditações que fiz, lá estava ela, enorme e majestosa, a Rainha dos Pássaros, uma linda bald eagle. Então, fuçando no site xamanismo.com, veja o que eu encontro!

"Uma Águia voou.
Seus olhos olhavam para o infinito
Voou, cresceu, aprendeu
Que o infinito é muito longe

E que o importante mesmo.
É continuar voando
E voando rumo ao Retorno
Rumo ao Ponto de Transição

Em harmonia com o tempo.
Seguindo o curso da natureza
O caminho se completando em si mesmo.
Tudo espontâneo e no devido tempo.

Como o sentido do Céu e da Terra.
O repouso dá lugar ao movimento
Com suavidade e amor
E que o Retorno traga a beleza.
As águias pescadoras e marítimas, alimentam-se basicamente de peixes. A Bald Eagle é parte dessa categoria. Aqueles que tem uma Bald Eagle como totem, precisam olhar a associação simbólica com a água. Água e peixe são símbolos de aspectos psíquicos da vida e de energias criativas. Reflete uma habilidade ou necessidade para aprender a caminhar entre os dois mundos . A água é a criativa fonte de vida e viver perto de fontes naturais de água, pode ser importante para a saude daqueles que têm Bald Eagles como totens. Uma águia desta caçando, é habil para penetrar nas águas, segurar o que necessita e se elevar. Tudo isso reflete a expansão de uma habilidade e necessidade para se aprender a trabalhar com emoções, psiquismo, e todos os aspectos de espiritualidade com grande controle.
Ela reflete ensinamentos sobre a verdade, mediando a entrada e saída do ser, nos mais etéreos reinos.
A Bald Eagle é maior do que a Águia Dourada, mas a dourada voa mais alto e com mais graça. A Bald é um símbolo do feminino, enquanto a Dourada simboliza o masculino. As penas brancas da Bald Eagle especialmente acumulam energia e são links com a Medicina da Avó, tremenda sabedoria, cura e criação.
As penas de águias são sagradas, utilizadas em poderosas cerimonias de cura ( limpeza de aura). As penas brancas também são utilizadas para máscaras, pelos indios Pueblo. Faz a conexão ancestral com os mistérios do céu e de todos os fenomenos.
Tanto a Águia Dourada como a Bald Eagle chegam para simbolizar a nobreza heróica, como o Divino Espírito. Essas águias são os mensageiros do paraíso e expressam o Espírito do Sol.
Elas também são símbolos da redescoberta de nossa criança interior. Existia uma crença que quando a velha idade se aproximava, os olhos de águia podiam turvar e a águia poderia então, voar tão perto do Sol, que poderia queimar-se. Então ela busca a fonte de água pura e mergulha três vezes dentro d´agua e rejuvenesce. Isso reflete misticamente, a alquimia da ressurreição. O fogo do Sol e as águas claras são elementos opostos trazendo mudanças harmônicas.
Refletem algumas necessidades para quem as têm como totem :
• Deverá ter envolvimento com a criatividade
• Experiência nos extremos com controle da situação, para facilitar o processo alquímico dentro da vida.
• A disposição de sacrifícar-se (sacro-oficio) para a purificação (voar até o Sol) e usar suas habilidades sempre que sentir que está se queimando.
• A disposição para buscar fora verdadeiros aspectos emocionais de sí mesmo e ir dentro de sí, buscando sua criança interior perdida e despertando um alto senso de pureza, paixão, criatividade, cura e espiritualidade.
Os pés das águias têm quatro garras, como as Quatro Direções. A Águia inspira habilidade para voar e conexão com a terra. Suas garras são feitas para agarrar e caçar, refletem a necessidade de conexão com as coisas da terra. Sem a habilidade para agarrar poderosamente não sobreviveria. Seu bico é afiado para cortar, rasgar, triturar.
Para aqueles que tem o totem da águia, novas visões se abrem. Essa visão poderá ser do passado, presente ou futuro. Segue o texto que escreví no livro "O Vôo da Águia " :
A Águia tem sido cultuada e reverenciada por muitos povos há milênios. É incontestável a força do seu simbolismo no inconsciente coletivo da humanidade. Sua medicina é muito poderosa, voa alto, acima das nuvens negras da ignorância humana, ajuda-nos a conquistar os limites deste mundo e alcançar outros reinos. Povos Nativos encontram na Águia coragem, resistência e força para enfrentar desafios difíceis. Curandeiros e xamãs usavam suas penas como um importante instrumento de poder curativo.
A medicina da Águia, ajuda no desenvolvimento de poderes xamânicos, viajando em mundos alternativos. Invocando a Águia, conseguimos a habilidade de voar velozmente à grandes alturas espirituais para o reino onde todas as coisas são possíveis. Por ser parte integrante dos céus; é associada ao Pai Céu e ao Sagrado Poder Solar da transcendência.
Com os olhos da águia, nós podemos ver com a visão da Luz Solar, clareando a verdade na escuridão da ilusão. Esta visão clara permite-nos ver à distância, para enxergar a nossa própria vida, livre de preconceitos e preocupações. Permite-nos voar longe dos limites dos detalhes, focando as coisas mais importantes e desenvolvendo nosso espírito.
A Águia ensina a ampliar a percepção sobre nós mesmos, além dos horizontes visíveis. Ensina a atacar nossos medos pessoais do desconhecido.
Os nativos americanos associam a Águia ao Poder de Wabun (Espírito Guardião da Direção Leste). Wabun tem o poder dos novos começos. Marca o renascimento, fazndo as pessoas verem mais claramente, com perspectivas mais amplas. É o pássaro mensageiro do Grande Espírito, levando mensagens dos homens para o Criador.
No cristianismo a Águia é a mensageira celestial, simbolizando a subida das orações a Deus e a descida da Graça Divina aos mortais. Na alquimia é o símbolo da volatização. Na Maçonaria é o símbolo da audácia. Para os hindus, foi a Águia quem trouxe a bebida sacramental "Soma ". No Egito a Águia é um emblema real que ficava no peito dos faraós, assegurando-lhes poder. Era também "Ah" e consagrada a Hórus. Entre os gregos e os persas era consagrada ao Sol. Para os gregos era considerada como o emblema sagrado para Zeus.
Minha Guardiã
Canção de Poder Canalizada
Águia, prá onde voas
Águia, prá onde vais
A Voar, a voar, a voar, a voar
A voar, a voar, sem parar

Águia, o que tu buscas
Águia, o que tu procuras
A voar, a voar, a voar, a voar
A voar, a voar, para mim.

Águia, não me abandones
Guia meu caminhar
A voar, a voar, a voar, a voar
A voar, a voar, para mim

És minha Guardiã
Contigo, não vou recuar
Vou voar, vou voar, vou voar, vou voar
Vou voar, vou voar, com você."

quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009

Trecho de “Mulheres que Correm com os Lobos” - Clarissa Pínkola Estés




“Cap. 12 – O Urso da Meia-Lua

Sob a orientação da Mulher Selvagem, resgatamos o antigo, o intuitivo e o arrebatado. Quando nossa vida reflete a dela, agimos com coesão. Persistimos, ou aprendemos a persistir se ainda não sabemos. Tomamos as medidas necessárias para manifestar nossas idéias no mundo. Recuperamos o foco de atenção quando o perdemos, ouvimos nossos ritmos pessoais, ficamos mais próximas de amigos e parceiros que estejam em harmonia com ritmos selvágicos e integrais. Optamos por relacionamentos que propiciam nossa vida instintiva e criativa. Estendemos nossa mão para beneficiar os outros. E estamos dispostas a ensinar parceiros receptivos tudo sobre os ritmos selváticos, se necessário.
Existe, porém, um outro aspecto do autodomínio, que é lidar com o que só se pode ser chamado de fúria da mulher. A liberação dessa fúria é obrigatória. Uma vez que a mulher se lembre das origens de sua fúria, ela passa a considerar que não pode parar nunca de ranger os dentes. Por ironia, também sentimos muita ansiedade para dispersar essa fúria, pois ela nos dá uma impressão nociva e aflitiva. Queremos nos apressar e nos livrar dela.
Reprimi-la, no entanto, não funciona. É como tentar guardar fogo num saco de aniagem. Não é aconselhável que nos queimemos, nem que queimemos outras pessoas. Portanto, cá estamos nós com essa emoção poderosa que achamos ter caído sobre nós sem que a chamássemos. É um pouco parecido com o lixo tóxico. Ele existe, ninguém o quer, mas existem poucos locais para depositá-lo. É preciso ir muito longe para que se encontre um terreno onde enterrá-lo. Segue-se uma versão intitulada “Tsukina Waguna, O Urso da Meia-Lua”, que pode ajudar a nos mostrar o que fazer quanto a isso. A história me foi dada pelo sargento I. Sagara, um veterano da Segunda Guerra Mundial e paciente do Hines Veteran's Assistance Hospital em Illinois, há muitos anos.”


Antes de postar o conto do Urso da Meia-Lua, preciso comentar esta introdução. Há muito, muito pouco tempo, passei por uma situação dolorosa, triste e claro, acompanhada de muita dor, e consequentemente, a fúria. Não fui violentada fisicamente. Muito, muito pior, de tanto ser agredida verbalmente, me tornei eu a agressora física. Agredi o homem em questão e a mim mesma. Entretanto, houveram contratempos que me impediam a decisão de encerrar por vez uma relação coturbada daquele jeito. Contratempos que nem comento, pois hoje, enterrei. Em pouco tempo, já entendi que não vai ser agora que vai passar, que essa ansiedade de esquecer, de nada adianta. Há um ritmo, um ciclo bem específico para aprender com a fúria daqueles momentos. Ainda relembro boa parte da dor, e, se eu relembro em certos momentos, é como se eu revivesse aquilo. Ainda estou em um processo, como será visto no conto, em que ainda não cumpri a segunda tarefa, aliás, acho que nem comecei a peregrinação. Os abismos de si mesmo. É um lugar perigoso, mas, com a consciência e com a mente, o corpo e o espírito bem ponderados, reconhecendo a origem da fúria, e como trabalhar de forma que ela seja proveitosa, e não como um veneno, torna a jornada bem mais aproveitável. Só essa introdução já dá muito tema pra pensar...
... em breve, o conto...

sexta-feira, 23 de janeiro de 2009

MATOCHIKALA

Eu sempre gostei muito de um aspecto da história humana, que é o nosso aprendizado com os animais, aspecto que aparece sempre no Xamanismo, com os animais de poder, os Totens...apesar de ter muita proximidade com o Lobo, eu tenho pesquisado muito sobre os Ursos, e me deparei com essa história no site sobre cultura Lakota. É uma história bem bacana, sobre o aprendizado humano em companhia dos Ursos. Eu mesma traduzi, qualquer erro, me avisem, ok?...


Mato era um urso pequenino quando veio ao mundo. Ele nasceu na profundeza de uma caverna e não era grande o suficiente para causar mal a qualquer ser vivo. Sua mãe o chamava de Matochikala, na linguagem humana.
Quando sua mãe acordou de seu longo sono, ela levou o Pequeno Urso para fora da caverna, para os brilhantes raios do Sol da Primavera. “O que são estas criaturas que voam sobre minha cabeça?” o Pequeno Urno perguntou. “Wanbli, a Águia”, sua mãe respondeu com um grunhido. “É com a Águia que aprendemos a viver com dignidade. Os olhos da Águia são mais apurados que o nosso, então, nós sempre ouvimos os avisos que ela manda lá de cima”
A Mãe do Pequeno Urso o levou para atravessar a mata até a beira de um rio onde ela o ensinaria a beber água. Ele pos o nariz na fria e límpida água e provou um pouco dela. O choque da água corrente fez com que ele ficasse assustado instantaneamente. Muitos anos depois, quando ele estava crescido e havia recebido seu nome de Guerreiro, Malo, ele se lembraria desta primeira “degustação”. Sempre que ele precisasse de clareza mental ou alerta para caçar, ele se lembraria primeiro da sensação que teve nesta primeira vez que bebeu da água do rio, para se preparar para a tarefa.
Mato se lembrava de seus primeiros dias com reverência, pois sua mãe havia sido uma ótima professora. Ela sempre o protegeu e o orientou para que ele vivesse a plenitude da vida. Ela o ensinou como caçar as larvas dentro dos troncos apodrecidos das árvores tombadas. Ela o ensinou quais flores e matinhos eram mais doces, que raízes o fortaleceriam e quais frutos o alimentariam durante suas longas horas de hibernação no Inverno.
E ela o ensinou como pescar o peixe vermelho (salmão) quando este saltasse da água contra a correnteza. A Mãe de Mato o indicou um lugar especial entre duas pedras íngremes, onde ele podia fazer tocaia. “Espere quietinho e pacientemente neste lugar”, ela disse, “e quando o grande Vermelho aparecer, e saltar da água, ele pulará diretamente pra dentro da sua boca.”
E então foi assim que as pessoas aprenderam a pescar, observando Mato e sua Mãe. Daquela vez em diante, enquanto Mato e seus irmãos pudessem ser vistos na beira do rio, as pessoas não passaram fome.

Do dia...


"A Palavra da Mulher é sagrada como a terra" (frase proferida pelo Cacique Aniceto Xavante na Conferência de Mulher Indígena e Meio-Ambiente/1991)

quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

Encontro com a Ayahuasca 01




Nossa, esses dias foi tudo tão forte, tão intenso que eu fiquei zonza, sem saber doncovim, proncovô e doncotô!
A mais próxima lembrança que tenho foi meu encontro com a Rainha no ritual de Sabado. Ela me chamou, e eu, sabendo que então enfim, estava pronta, abracei. O Xamã Marco Mazz, que já havia me orientado num curso há muito tempo atrás na Hera, orientou o ritual da Ayahuasca com toda a seriedade e ternura que só ele sabe passar. Nem tenho muito o que dizer sobre O QUE É o encontro quando se toma a Ayahuasca. Só posso dizer, sem sombra de dúvida, que eu fui na hora certa, no lugar certo, com a pessoa certa prá me orientar. Já sou oficialmente uma frequentadora devota do Núcleo Xamânico, assim como já sou na Hera Mágica. (Pat, desculpe, realmente tenho dificuldades para chamar de Projeto Hera, pois onde você e o Cláu estiverem, sempre será a Hera Mágica...amo vocês!)
foi um encontro gostoso, os cantos xamânicos do Mazz foram deliciosos, a única parte realmente bacana foi quando ele orientou-nos a encontrar a nossa criança interior, aquela que não tem medo de nada, que brinca a vida (não confundir com brincar COM a vida)...e eu pensei comigo: "com mil deabos, a criança interior minha já é criança exterior, tenho que achar a adulta interior!"...mas, entre risos e aquele clima delicioso, muita coisa rendeu. Consegui descansar bastante (o que me custou uns dias de trabalho, mas tudo bem), descanseio corpo e a alma, tava precisando mesmo, pois o mundo estava a dois passinhos de cair nos meus ombros. Esses dias não resolvi nada, não decidi por nada, não procurei nada nem ninguém. Descansei. Parei pra respirar e contemplar. Hoje tô de volta aqui pro trampo...se lá, mais lúcida, mais paciente, menos esgotada. E hoje, decidi. Chega de farra. Esses dias depois do ritual foram legais pois realmente acordei minha criança até perder o limite. Fiz todo tipo de farra, dancei com as minhas padilhas. Mas agora, chega. Agora é hora de ser séria. Pés no chão pra Terra me abrigar.

segunda-feira, 19 de janeiro de 2009

Relato - Primeiro ritual do ano (03/01/2009)


O som da flauta bambu me aquieta. Coloco o lenço no chão e respiro fundo, sentindo o ar entrando passivamente em mim. O maracá bate ritmado...tchoc...tchoc...tchoc...Im espiral se abre à minha frente e se fecha às minhas costas. O Xamã anuncia a oração do Grande Espírito, chamado com o m'baracá e o tambor. Pego no caldeirão a primeira concha da infusão de ervas, minha mente devaneia por todos os momentos do passado em segundos. Com a segunda concha, esfrego o rosto, e enxugo os olhos protegendo-os das lágrimas que ali correram. Ainda ajoelhada, totalmente nua, com apenas o colar de sementes no pescoço, vou me banhando, concha a concha da infusão e cantando "ioná, hei,hei, ianáa ianahô, ianá, hei,hei hou hei"...
Em seguida, uma longa meditação, agradecendo á presença dos Xamãs que ali vejo ao meu redor e percebo outros no lado de fora me aguardando. Continuo me banhando com a infusão de ervas, sentindo as folhas e as pétalas grudando no meu corpo com seu cheiro intenso. E sigo cantando..."auá, auá, iê, iá, caá yraí, iê iá..."
Me levanto cantando, bem concentrada ainda, nhanandumirim veperopatá....limpo com as ervas cada uma das cicatrizes visíveis no meu corpo e as invisíveis também. Quando limpei meu corpo todo, deixei o restante da infusão me banhar por completo. Permaneço ajoelhada por alguns momentos, de olhos fechados, peço a presença d'algum animal de poder, e uma serpente, linda e grande cascavelabraça minhas pernas, serpentando pelo meio das minhas pernas, abraça minha cintura, e a partir do centro das costas, bem na coluna, sobe por ela até a altura do ombro, retilienarmente, e repousa a cabeça no alto de minha cabeça. Me vejo no espelho com olhos brilhantes e algo de selvagem. Cubro-me com o véu branco, e ao bater as asas, uma poeira densa se vai. Ao fundo dos cantos xamânicos, uma Loba uiva, e eu sei que está aguardando minha resposta, e eu uivo de volta, e ela vem, grande e forte, uma Loba Cinzenta senta-se ao meu lado. A mulher velha, de véu branco e verde circula pelo quarto. Estão lá também todos os espíritos amigos. Me abraçam, acalentam, passam a mão em meu rosto e cabelos. Me despeço deles quando eles se despedem de mim. Me deixam bençãos. "Querendo você ou não, atenta ou não,estamos sempre por aqui." .A Serpente e o Lobo se vão com a Velha.
Agora, que venha o próximo ciclo. Estou pronta.
Estou e sempre estarei aberta a eles.

E foi depois deste ritual que o meu trabalho começou a render. Colares, fitas de cabeça, adornos em geral, todo com materiais naturais, sementes, contas, penas, flores, folhas...em breve, posto imagens dos objetivos alcançados, e o que resultou tamanha inspiração.
Obrigada, Mãe, obrigada ao Pai. Que haja paz, acima e abaixo, dentro, fora e no Centro.

segunda-feira, 5 de janeiro de 2009

Ano novo, Antigas Novas Forças;;;

BlogBlogs.Com.Br
De tão feliz que estou em localizar um antigo professor de Catimbó, eis que acho nos maus emails, sabe, naquele endereço que eu nunca mais olhei, este texto dele, enviado pelo Núcleo Xamânico...que coisa mais inspiradora!



ANO NOVO, ANTIGAS FORÇAS NOVAS.

Amanheci em 2009
E pegando meu tercinho
Na Antiga Tradição Mágica
De Mãe Jurema e Pai Jurme
Comecei Minha Ladainha
Em PROL de TODOS QUE AMO
E...Surpresa!
As Divinas Forças Auxiliadoras de Muitos
Mudaram nesse Novo Ciclo
Que bom! Novas coisas irão acontecer
Que sejam para o BEM/LUZ/VIDA!
Procura perceber qual o ANTIGO/NOVO
DEUS/DEUSA está em ti
Qual a mensagem Karmica contida
Na Sagrada Presença
E FAÇA o que os DEUSES QUEREM...
SEJA FELIZ!


....não tem mais nada pra dizer...ele me silenciou com as belas palavras!...
E ninguém segura mais essa Lobinha....que agora tô correndo por todos os campos e uivando para todas as Luas!

sexta-feira, 2 de janeiro de 2009

Post Inicial



Junto ao blog Deuses & Mortais, comecei a perceber que aos poucos, a força vital, a Deusa ou como você preferir chamar, começou a me chamar atenção para a minha própria terra. Aqui, em minha querida São Paulo de Piratininga não temos muio acesso, mas basta fuçar mais fundo e encontramos, lindos traços de nossos povos ancestrais. Então, para aprofundar um pouco mais o tema, está enfim aberto um novo blog, voltado mais ao ecofeminismo e ao Xamanismo. Estou agora em minha pesquisa mais íntima e ao mesmo tempo, voltada ao macro...e vamos ver onde vai parar esta jornada...se bem que eu DUVIDO que pare!