segunda-feira, 23 de março de 2009

Tupã Tenondé


Fonte: Tupã Tenondé
Ñe'e Porã Tenondé (Nossas Primeiras Palavras Formosas)


Nossa primeira canção
Criou-se por si mesma
Na vazia Noite Iniciada

As Sagradas Plantas dos Pés
O pequeno assento arredondado
do Vazio Inicial
enraizou Seu florescer

Círculo desdobrado da Sabedoria individual
fluiu-se Divino todo Ouvir
As Divinas palmas das mãos portando o bastão de poder
As Divinas palmas das mãos feito ramas floridas
Tramam o Imanifestado, na dobra de Sua evolução
No meio da Primeira Grande Noite

Da Divina coroa irradiavam
Flores plumas adornadas
em leque
Em meios ás flores plumas floresce
a coroa-pássaro
do pássaro-futuro,
luz veloz que paira
em flor e beijo
que voa, não voando

Nossa Primeira Canção criava
futuro colibri, no curso de sua evolução, seu Divino corpo
Existia no entando em meio aos primeiros Ventos futuros
Como coruja dentro da noite Primeira
olhava-se revoando
seu futuro firmamento, sua futura terra, brisas surgidas
enquanto colibrizava vidas
dos ventos produzidos, do Imanifestado
que fora um colibri

Nossa Primeira Canção
Antes de haver-se criado,
no curso de sua evolução
sua futura morada,
sustenta-se no vazio
Antes que existisse Sol
Ele existia pelo reflexo de seu próprio coração
e fazia-se servir de Sol dentro de sua própria Divindade.

sexta-feira, 6 de março de 2009

O poder da fala


Eu sempre me apresento como uma grande tagarela. Muitas vezes que acabo de conhecer alguém, tamanha a sintonia que conto a minha vida inteira, e me deixo aberta a ouvir a vida da outra pessoa. Nessa troca de informações, acabo cedendo de tudo: onde estive, onde errei, onde acertei, quando adoeci, o que aprendi, tudo!
Tem quem veja isso como um defeito, e eu já não sei se concordo. Um dos pilares do Xamanismo é a tradição oral, o contar histórias. Grande parte das heranças que temos do Xamanismo (Celta, em particular) foram transmitidos de avós para netos, pais para filhos, em volta de fogueiras, ou mais pra frente, no aconchego da sala de estar. A tradição oral, ao meu ver, embora não pareça logo de cara, tem uma força imensurável se comparada á tradição escrita. Mesmo com as ferramentas de hoje em dia, internet, jornais, livros, a tradição oral ainda é, de uma foma tímida, porém poderosa, uma excelente forma de enriquecer as tradições mais antigas e nosso mito pessoal.
Ora, pensando melhor...se até mesmo, no episódio mais infeliz da minha vida recente,que foi a depressão, o tratamento consistia em quê? Conversar. Um ouvido amigo, uma boa terapeuta, em que eu pudesse confiar em contar os segredos que mais me envenenavam, e assim, ser curada. O poder de uma longa conversa é indescritível. Peço licença aqui pra "roubar emprestada" algumas palavras do Lobo do Cerrado

No nosso modo de ver, a palavra é um dom que vem direto do Grande Espírito. Por meio dela, nos temos o dom de criar. É através da palavra que nos manifestamos tudo. Independente da língua que falamos, nosso intento se manifesta por intermédio da palavra. Tudo que sonhamos, sentimos e o que somos é manifestado mediante a palavra.


Por conta destas e outras, as pessoas quando são articuladas, tagarelas como eu, ao invés de ceder ao senso-comum de que "em boca fechada não entra mosquito", repensar, até que ponto ser uma pessoa comunicativa é um dom, e quando vira um fardo? Na minha opinião, quanto mais nestas horas conseguirmos ser instintivos, melhor. Se o "faro" diz que a pessoa não vai entender, nem perca tempo. Nem verbo. Ouça. Muitas vezes, ouvindo estamos falando. Estamos dizendo a pessoa que a entendemos, que há atenção.
Falar é um dom que, aprendi recentemente, poucos dominam. Muitos falam apenas por falar, não reconhecem o sopro de inspiração divina que provém das palavras ditas. Aprenda a usar este dom, desenvolva-o. Se você tem muito pra dizer e ouvir, lógico que tem muito a aprender e a se curar, como no caso da depressão, se não tivesse a quem conversar, as feridas jamais fechariam. Muitas vezes uma ferida se manifesta no silêncio. Saber reconhecer o momento de calar e o momento de dizer é um dom enriquecedor, a ser reconhecido e desenvolvido.