quarta-feira, 21 de outubro de 2009

Corpos possíveis



Fui convidada a escrever algo hoje para a blogagem coletiva do dia de amar seu corpo. Fiquei três dias pensando comigo, revendo e relembrando todas as queixas/elogios/depreciações que a cada dia se escuta das mulheres a respeito do próprio corpo.


As chagas de Afrodite ficaram mais visíveis e lamentosas. É triste dizer e lembrar que, em tempos em que a fé começou a ser questionada juntamente aos valores atípicos de hoje em dia, Afrodite venha a ser uma Deusa acidentalmente venerada pelo inconsciente coletivo e sendo barrada no consciente.


Eu explico: como citei no texto abaixo, Afrodite representa a energia passional, e por tal razão, mesmo com inúmeras tentativas de reprimí-la, nunca houve muito esforço para tanto. Os ideais da generosidade, da paixão intensa, da profundidade emocional acabaram sendo ofuscadas pela sexualidade/sensualidade, e pela beleza física, tátil, supérflua.


Claro que não sugiro que as mulheres se revoltem contra os padrões esqueléticos de beleza de hoje em dia, mas a minha sugestão é: Que tal se ver como você é? Descobrir quem você é e como isso se reflete em seu corpo? Sim, o corpo físico, a matéria de que somos TODOS constituídos é uma manifestação de seu interior.


Será que não estamos tentando encaixar nossos corpos em um reflexo de uma Deusa que foi confundida com o "ideal da mulher perfeita"?


O padrão esquelético tem uma longa existência da busca incessante pela Virgem, acho que foi no princípio da Cristandade, lááááá com o sexualmente afetado e ex-ladrão, Paulo. O que se intensificou horrores na medida em que as doenças venéreas surgiram, e a busca por prostitutas virgensvirou uma histeria coletiva. Tá em qualquer livro sobre o assunto, pode pesquisar. As mulheres se sufocando em espartihos, para disfarçar o ventre flácido e os seios murchos de parir e alimentar bebês, prostitutas enfiando nas vaginas esponjas banhadas em sangue para que o cliente pagasse mais caro supondo ser uma prostituta virgem.


Em tempos novos, já se considera um absurdo, ouve-se em programas da tarde, dedicados á manter mulheres domesticadas, o horror, mulheres no século passado, se esmagando em espartilhos, para que os quadris largos não denunciassem (mesmo que inconscientemente) o quando seria desvalorizada se não o usasse!


Sim, realmente, absurdo, uma nítida tentativa de sufocar (literalmente) a feminilidade. Ainda bem que acabou! Epa....acabou?


Só no meu ambiente de trabalho conheço umas 3 mulheres que mutilaram o estômago, reduzindo-o ao tamanho de uma bola de golfe. Os cirurgiões plásticos ganham uma fortuna aspriando gordura de culotes de mocinhas, e até mesmo já há casos de meninas entre 8 e 12 anos já anoréxicas. Acabou mesmo ou o espartilho foi trocado por uma nova tortura?


Comprovando a minha idéia de que a busca pelo corpo eternamente virginal, quase infantil, surge a nova idéia, a nova maravilha da tecnologia de ponta em cirurgias plásticas: a reconstrução do hímem. Ok, em certas culturas, o que não vou criticar de forma alguma, a ameaça de ser subjugada na própria família fez necessário um procedimento desses, mas e quanto às que reconstróem o hímem a casa novo casamento? Se eu tivesse agora como desenvolver mais uma linha de raciocínio, faria a análise mais funda dessa confusão.


Nessa neurose de criar os corpos impossíveis, a "mulher maravilhosamente estonteante de linda", meninas destróem o próprio corpo se recusando a se alimentar, outras mutilam os próprios órgãos (ressalvo em casos de saúde, o que direi mais à frente), em um desespero absurdo de se tornanrem a Vênus de Botticelli. Deus que nos livre de sermos Vênus de Willendorf!


E na maioria dos casos o que acontece? Mulheres lindas, porém enfraquecidas. Sem alimentar o corpo e sem saber alimentar o próprio coração. Se tão lindas, de tão estonteantes, tornam-se o antílope de couro mais cobiçado. Se vêem em uniões intáveis, infelizes, muitas vezes, reflexo do próprio desrespeito com o próprio corpo. Se tornam as "vitrines" do parceiro por quem se apaixonam. São julgadas, até por outras mulheres, como fúteis, superficiais, as tais "lôraburras". E elas, magoadas, perdidas, vingativas, taxam as outras de mal-comidas, invejosas, e por aí vai. Que mulherada maluca é essa?


São as chagas de Afrodite. Na leitura do livro "A Deusa Interior" (Roger Woolger e Jennifer B. Woolger, Ed.Cultrix), diz-se que a sexualidade sagrada de Afrodite foi substituída pela imaginária Virgem, e após algum tempo acabaram misturadas, e hoje em dia o que temos, é a Mulher Maravilhosamente Linda e IDEAL.


Como recuperarmo-nos de chagas tão profundas? O ideal é você ouvir seu próprio corpo. Ver nele o reflexo de você mesma, como mencionei acima. Muitas vezes, acabamos usando o corpo como depósito de nossas aflições. Nos rostos abaixo, lindos ou não, pode-se ver a beleza natural e a sabedoria, que traz um brilho essencial, que difere de dietas, maquiagens, roupas de grife ou afins.


Quando se está em paz consigo mesma, é possível ser feliz como se realmente é. O papo é clichê, mas é real. Quantas mulheres maravilhosas eu conheço, de mais ou de menos idade, com quilinhos a mais ou quilinhos a menos? Se algumas delas não se perdessem lamentando não se encaixarem no perfil esquelético-sexy, mas no próprio perfil, seriam tão mais felizes.


Mas eu sou apenas uma moça de 25 anos, não tão gorda nem magrela (com uma barriguinha de cerveja que me denuncia, rsrsrs)...


----->>> ela não é linda? eu acho!

segunda-feira, 19 de outubro de 2009

Círculo Xamânico



Eu lá estava, mais uma vez diante de um círculo. Sentia a aflição de uma senhora, a dureza e o medo enraizados tão forte em seu corpo de forma que seus ombros endurecidos elevavam-se como montanhas. A menina cujo coração acelerava a cada palavra do Xamã, feliz por enfim encontrar um grupo que realizava aquilo que ela só imaginava ao ler livros. A mulher vivida que estava agora, aliviada por suas "missões familiares" estavam encerradas e que respirava e vivia cada dia novo daquela nova mulher que ela mesma descobrira ser. O Xamã Marcelino, doce e simpático, com a voz mansa e o olhar carinhoso, e o Xamã Edson, com seu carinho ancião, seus olhos transbordando sorriso e sabedoria. Em consenso, todos ávidos, porém não ansiosos, em aprender e ensinar.


Antes de entrar no círculo, purificamo-nos com o M'baracá e com a fumaça de sálvia. Cada chegada era recebida com sorrisos, e a doçura presente ali, me relembrava a razão de eu estar há tanto tempo escondida na cova.


Havia sido doce e aberta demais. Não sei ser de outro jeito, e me abri, dei uma chance para um vampiro. Quando ele me atacou, o medo foi tanto que eu fugi e me tranquei de novo, estava de novo, escondida dentro da toca, lambendo feridas. Precisava agora, reaprender mais uma vez a me deixar ser.


O Oráculo me mandou a mensagem do Espaço Sagrado e do Respeito. Eu sabia. Eu não respeitava mais os limites de ninguém, a começar pelo meu próprio. Eu era de novo a Loba machucada, rosnando a todo lado. E me levei a alma até aquele círculo justamente por saber que ali, eu não iria rosnar. Estou cansada de ser brava. Estou abandonando esse personagem.


O talkin stick foi passado de mão em mão, após a jornada da criança interior. A criança que me apareceu, a Loba Véia (que sempre aparece nas minhas jornadas) que me trouxe. Ela estava de costas, num trecho mais distante da campina. A Loba me olhou e olhou para a criança, indicando a ela que eu estava lá. Ela veio, e me olhou, eu estava ajoelhada diante dela. Era uma criança linda, de cabelos lisos e negros, pele morena de sol, e olhos de "bicho preguiça". Ela me abraçou e escondeu seu rosto em meus cabelos com um esboço de sorriso. Aquele sorriso doce e meigo que só crianças sabem dar, tão espontaneamente. Seus dentes pequenos e brancos em uma linha perfeita. A abracei, fechando os olhos, e com toda a força. Ela me olhou, e aos poucos, foi ficando transparente. Uma fumaça que eu respirei fundo e deixei que me inundasse os pulmões. A doçura e a espontaneidade infantil.O carinho gratuito. A Loba Véia me olhou com os olhos ansiosos, como ela sempre me olhava quando o tambor chama. "Vamos?"..."tá seguro, pode vir...sai dessa toca, não tem perigo..."...encolhi os ombros e fui correndo com as minhas quatro patas atrás da Loba. Ela me esperava sentada diante do velho Carvalho. Encostei-me nele, e ele se abriu, e eu estava de volta ao mundo. Com o carinho, com a doçura inocente da Criança, e com a segurança de que a Loba sempre me emprestaria seu faro, e que não preciso atacar para me defender.

E foi exatamente assim como eu descrevi a minha jornada na roda Xamânica, quando peguei o talkstick...cada abraço que dei foi com o coração, e cada abraço que recebi, foi com o coração aberto.


Tocamos os tambores, dançamos em Círculo, agradecemos a Pachamama, e Wakantanka, Jurema e Jurem, ao Salgueiro e aos animais de Poder, e aos guardiões das Torres das quatro direções Sagradas.


E assim foi, quando uma pessoa, tempos depois, que não gostava de mim, virou uma grande amiga. Justamente por que eu não rosnei, dei-me uma chance de ser quem sou, e pedi-lhe uma chance de mostrar quem eu sou.


Sou a Alê Lobo e assim falei.


HO!


quinta-feira, 15 de outubro de 2009

As Deusas - Afrodite


(Resolvi começar por Afrodite não apenas por ser uma Deusa mais acessível, cuja imagem já está gravada no imaginário popular, mas também por ser uma de minhas influências mais fortes, logo, me sinto à vontade de começaar por ela, por vivenciar diversas vezes as virtudes e as vicissitudes da influência Dela, e aposto que muitas mulheres também irão se maravilhar em ver-se em diversas situações na influência mais direta, e assm, compreender a si mesma)


"Amor Cósmico" de Dante: "Que move o Sol e todas as outras estrelas"


Afrodite ocupa um lugar respeitado no Olimpo, embora a Rainha Hera a repreendesse implacavelmente, devido ao compromisso sexual licencioso. Afrodite também foi, e ainda é, uma constante no imaginário popular, assim como a energia sexual/passional sempre transpareceu no véu da moralidade histórica, sem jamais ser totalmente reprimida, na verdade. É interessante observar que Ela trocou o Olimpo pela Hollywood nas últimas gerações. Exemplos de mulheres-Afrodite são Greta Garbo, Marilyn Monroe, Liz Taylor.


Aphordite Pandemos - Deusa entre as pessoas


A reverência à Afrodite na Grécia Antiga era preservada profundamente, uma vez que a sexualidade era tida como um dom sagrado, não um bem a ser explorado. No mundo moderno, os atributos físicos da Deusa chegam a ser uma obsessão, obscurecendo sua dimensão sagrada. Nas palavras de Roger Woolger em "A Deusa Interior": "Nunca uma Deusa foi tão íntima e tão pública ao mesmo tempo!". As mulheres nascidas sob a influência Dela apreciam a sensualidade e a beleza como qualidades sagradas, e são "peritas" em civilizar a rude e grosseira energia masculina.

Por mais importante que seja a sexualidade para a mulher-Afrodite, ela sempre será a parte integrante de um relacionamento, nunca um fim por si só. É a ligação pessoal com o companheiro ou amante, a troca de prazer entre ambos que torna o sexo algo tão extático para ela.

Para se compreender (e conviver) com uma mulher-Afrodite é fundamental a capacidade de relacionar-se em um sentido amplo. Seja por quinze minutos ou por uma vida inteira, ela quer que sejamos inteiramente, sensivelmente e humanamente presentes. Se não houver um relacionamento em seu significado mais profundo, ela definha aos poucos, ou simplesmente perde o interesse.

Porém, ela não é particularmente interessada em casamento e filhos como tal. Quando tiver (se tiver) filhos, será uma mãe afetuosa e generosa, e muito pouco convencional. Mas não fará dos filhos o centro de sua vida , como Deméter faria. Ela não se interessa muito em criar raízes, e tende a ver a vida como uma eterna aventura (com um possível final romântico). Ela busca um homem sensual, ativo e desimpedido.


"Dai-me castidade e continência, mas não já!" (Santo Agostinho)


A segurança sexual e a atração que ela possui naturalmente na sociedade ainda machista e patrifocal torna-se um "mal necessário" de modo que fizeram com que a energia de Afrodite seja confinada e banalizada ao máximo, como uma prostituta, cocunbina, cortesã ou amante, focalizando apenas no sentido físico da energia puramente e profundamente passional de Afrodite. Mesmo assim, nunca se deixou de ansiar pelos dons extáticos, o amor e o prazer, assim, nunca a baniram completamente. Um dos problemas mais sérios nesses casos é o fato de que outros atributos da Deusa acabaram subjulgados, ou mesmo ignoradoso que faz muitas mulheres sob forte influência Dela se sentirem inadequadas, ou se vêem como meros objetos sexuais e alvo de idolatrias vazias. Já bem disse Marilyn Monroe: "Esse negócio de ser sex-symbol é uma coisa; e eu não sou uma coisa!"

Os atributos de amor e prazer são intimamente ligados à inspiração, as artes e a sensibilidade, que acabaram sendo atributos negligenciados por osmose.

A mulher Afrodite é uma sensualista ousada e sem pudor. Ama as coisas que lhe despertam os sentidos: perfumes (particularmente os de flores),as roupas com toque gostoso na pele, comidas finas, etc.

Quando ela está presente em um relacionamento amoroso, dissipará todas as couraças e defesas, nos deixando totalmente desarmados e abertos. Quando nossa armadura se vai, as partes sensíveis e suscetíveis à dor ficam à mostra. Ficamos tentados a nos fechar de volta e todas essas reações são diante do afloramento dos sentimentos há muito enterrados. Se dermos a nós mesmos a chance de ficarmos a sós com ele, Afrodite acrescentará uma boa pitada de tolerância e paciência.

Afrodite acaba sendo uma Deusa explorada por meio de sua imagem em meios de comunicação em massa. A troca da carnal mulher homenageada pelos trovadores pela Virgem, a mulher ideal pelo patriarcado causou uma das mais profundas chagas de Afrodite: mesmo não sendo a Virgem que está sendo deliberadamente lançada aos Céus, a mídia não vem fazendo exatamente isso com Afrodite? Não estamos transformando a Deusa em um ideal corpóreo, absolutamente inatingível da Mulher Perfeitamente Linda?

Para que Afrodite possa recuperar seu respeito, é preciso que ela tenha de volta seu próprio corpo, ou seja, toda mulher que busca a consciência perdida da Deusa deve começar o amor e acalentar seu próprio corpo como ele é, não em termo de algum ideal do que ele deveria ser. E os homens, parar de comparar toda mulher desejável com algum retrato interior impossível que trazem dentro de si.

Um ditado judaico diz que Deus quer o coração. Em verdade é o que poderíamos afirmar de Afrodite.: a Deusa quer o coração, o que simboliza tudo que é autêntico e verdadeiro em nossas menos defendidas profundezas. E quando dois corações estão abertos um ao outro, a magia de Afrodite pode fluir entre eles. Quando os canais estão abertos,a Deusa está verdadeiramente presente entre nós.