Não vou ficar repetindo aqui o quanto a civilização atual sem perceber sofre a falta de identidade, de ligações significativas, da carência de mitos e da urgência em voltar-se para a Terra.
Também não pretendo dizer aqui nada sobre as guerras religiosas, os crimes religiosos. Não pretendo em nenhum momento usar de referências históricas.
Mas vejo muito, em pelo menos 9 das 10 conversas que tenho por aí em que menciono algo sobre o Xamanismo, seja a tratando como “religião” seja uma opinião minha que é refletida diretamente ao Xamanismo, que muitos se dizem “conhecedores” do assunto, sem na verdade ter embasamento algum.
Talvez seja pela “fama” atribuída ao Xamanismo com a tal “nova era”, que o ranço das escolas tradicionais religiosas (tais como a teologia, ou os estudos kardecistas) que, sendo uma religião re-estruturada das cinzas, basta uma leitura ou alguns momentos ouvindo uma palestra e PRONTO! Já se “é” xamã.
Como é fácil se aprofundar num assunto e se manter superficial no mesmo!
Eu posso regurgitar citações e opiniões de vários livros. De nada adianta se eu não vivê-lo. Parece que ainda estamos presos ao “leia e decore” do colegial!
O Xamanismo é um nome dado a uma prática espiritual, não gosto de chamar de religião, pois remete ao “religar-se”. Não vejo o Xamanismo como uma forma de se reconectar a algo. A prática xamânica leva á uma conexão contínua com TUDO. O Grande Mistério é esse.
Todas as bases e características de práticas xamânicas tem em comum não apenas a cura. Mas sim a contemplação; o tal Grande Mistério não é decifrado; tampouco para ser solucionado (lembre-se é um mistério é um mistério, não um problema!); a prática xamânica vem de dentro pra fora, não de fora para dentro.
É necessário sim, estudar, ler, identificar os passos, reconhecer a trilha. Mas de nada será útil sem os tais atributos: de nada adianta entender e ler por exemplo, sei lá..os ensinamentos de D.Juan ao Castañeda, sem saber usar seu faro.
Os atributos do guerreiro, dos animais de poder, dos ancestrais, dos espíritos aliados, são presenças constantes na vida do Xamã. Além de pesquisas e estudos, do Xamã “moderno” (eu sempre acho engraçado falar assim, “moderno” rs). E nenhum desses passos, nenhum desses aliados um dia vira para o Xamã e diz: “já te ensinei tudo que eu tenho pra ensinar”. Por que a vida não termina. Ora, então como haveria de acabar as novidades? Quando é que se acaba de contemplar esse Grande Mistério?
O segredinho é que tudo é válido. O Xamanismo não é uma religião apenas. É uma vivência. A prática xamânica flui, não é um espirro.
O espaço é sagrado. Sim, o espaço ritual é consagrado o tempo todo. E o seu lar? E o seu trabalho? E o caminho que você toma todo dia? Seu carro que te transporta? Seus pés que te sustentam?
Reconhecer a sacralidade em tudo é viver o Xamanismo. Reconhecer a sacralidade em ler um texto, questionar e colocar em prática, é viver o Xamanismo.
Viver o Xamanismo, é viver a vida. Plena. Inteira. Sem deixar faltar nem um pedacinho dela.
Ouvi dizer que na minha idade, aos 20-25, também conhecida por “vintolescência”, é a fase em que a sensação de urgência, de resolver a vida até os 30 é típica. Não digo que não me deixa preocupada chegar aos 30 sem algumas coisas concluídas.Porém, há outras que não me preocupo. Já cedo, entendi que nunca haverá o “falta só um pouquinho e tudo estará perfeito.”. Os problemas também são vivenciados, é nas crises que aprendemos.
Abraçar a escuridão também faz parte dessa “crença” (argh...essas palavras...). Posso usar uma centena de metáforas para explicar, mas de nada adiantará. A escuridão e a luz de cada um, cabe a cada um experimentar a própria.
Então, por favor, não atormentem seus ancestrais, animais de poder, e aliados para resolverem seus problemas como se eles fossem definitivos. Pois quando os problemas e soluções (hic!HIC!HIC!)dessa existência acabarem, novos ciclos começarão.
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