Fui convidada a escrever algo hoje para a blogagem coletiva do dia de amar seu corpo. Fiquei três dias pensando comigo, revendo e relembrando todas as queixas/elogios/depreciações que a cada dia se escuta das mulheres a respeito do próprio corpo.
As chagas de Afrodite ficaram mais visíveis e lamentosas. É triste dizer e lembrar que, em tempos em que a fé começou a ser questionada juntamente aos valores atípicos de hoje em dia, Afrodite venha a ser uma Deusa acidentalmente venerada pelo inconsciente coletivo e sendo barrada no consciente.
Eu explico: como citei no texto abaixo, Afrodite representa a energia passional, e por tal razão, mesmo com inúmeras tentativas de reprimí-la, nunca houve muito esforço para tanto. Os ideais da generosidade, da paixão intensa, da profundidade emocional acabaram sendo ofuscadas pela sexualidade/sensualidade, e pela beleza física, tátil, supérflua.
Claro que não sugiro que as mulheres se revoltem contra os padrões esqueléticos de beleza de hoje em dia, mas a minha sugestão é: Que tal se ver como você é? Descobrir quem você é e como isso se reflete em seu corpo? Sim, o corpo físico, a matéria de que somos TODOS constituídos é uma manifestação de seu interior.
Será que não estamos tentando encaixar nossos corpos em um reflexo de uma Deusa que foi confundida com o "ideal da mulher perfeita"?
O padrão esquelético tem uma longa existência da busca incessante pela Virgem, acho que foi no princípio da Cristandade, lááááá com o sexualmente afetado e ex-ladrão, Paulo. O que se intensificou horrores na medida em que as doenças venéreas surgiram, e a busca por prostitutas virgensvirou uma histeria coletiva. Tá em qualquer livro sobre o assunto, pode pesquisar. As mulheres se sufocando em espartihos, para disfarçar o ventre flácido e os seios murchos de parir e alimentar bebês, prostitutas enfiando nas vaginas esponjas banhadas em sangue para que o cliente pagasse mais caro supondo ser uma prostituta virgem.
Em tempos novos, já se considera um absurdo, ouve-se em programas da tarde, dedicados á manter mulheres domesticadas, o horror, mulheres no século passado, se esmagando em espartilhos, para que os quadris largos não denunciassem (mesmo que inconscientemente) o quando seria desvalorizada se não o usasse!
Sim, realmente, absurdo, uma nítida tentativa de sufocar (literalmente) a feminilidade. Ainda bem que acabou! Epa....acabou?
Só no meu ambiente de trabalho conheço umas 3 mulheres que mutilaram o estômago, reduzindo-o ao tamanho de uma bola de golfe. Os cirurgiões plásticos ganham uma fortuna aspriando gordura de culotes de mocinhas, e até mesmo já há casos de meninas entre 8 e 12 anos já anoréxicas. Acabou mesmo ou o espartilho foi trocado por uma nova tortura?
Comprovando a minha idéia de que a busca pelo corpo eternamente virginal, quase infantil, surge a nova idéia, a nova maravilha da tecnologia de ponta em cirurgias plásticas: a reconstrução do hímem. Ok, em certas culturas, o que não vou criticar de forma alguma, a ameaça de ser subjugada na própria família fez necessário um procedimento desses, mas e quanto às que reconstróem o hímem a casa novo casamento? Se eu tivesse agora como desenvolver mais uma linha de raciocínio, faria a análise mais funda dessa confusão.
Nessa neurose de criar os corpos impossíveis, a "mulher maravilhosamente estonteante de linda", meninas destróem o próprio corpo se recusando a se alimentar, outras mutilam os próprios órgãos (ressalvo em casos de saúde, o que direi mais à frente), em um desespero absurdo de se tornanrem a Vênus de Botticelli. Deus que nos livre de sermos Vênus de Willendorf!
E na maioria dos casos o que acontece? Mulheres lindas, porém enfraquecidas. Sem alimentar o corpo e sem saber alimentar o próprio coração. Se tão lindas, de tão estonteantes, tornam-se o antílope de couro mais cobiçado. Se vêem em uniões intáveis, infelizes, muitas vezes, reflexo do próprio desrespeito com o próprio corpo. Se tornam as "vitrines" do parceiro por quem se apaixonam. São julgadas, até por outras mulheres, como fúteis, superficiais, as tais "lôraburras". E elas, magoadas, perdidas, vingativas, taxam as outras de mal-comidas, invejosas, e por aí vai. Que mulherada maluca é essa?
São as chagas de Afrodite. Na leitura do livro "A Deusa Interior" (Roger Woolger e Jennifer B. Woolger, Ed.Cultrix), diz-se que a sexualidade sagrada de Afrodite foi substituída pela imaginária Virgem, e após algum tempo acabaram misturadas, e hoje em dia o que temos, é a Mulher Maravilhosamente Linda e IDEAL.
Como recuperarmo-nos de chagas tão profundas? O ideal é você ouvir seu próprio corpo. Ver nele o reflexo de você mesma, como mencionei acima. Muitas vezes, acabamos usando o corpo como depósito de nossas aflições. Nos rostos abaixo, lindos ou não, pode-se ver a beleza natural e a sabedoria, que traz um brilho essencial, que difere de dietas, maquiagens, roupas de grife ou afins.
Quando se está em paz consigo mesma, é possível ser feliz como se realmente é. O papo é clichê, mas é real. Quantas mulheres maravilhosas eu conheço, de mais ou de menos idade, com quilinhos a mais ou quilinhos a menos? Se algumas delas não se perdessem lamentando não se encaixarem no perfil esquelético-sexy, mas no próprio perfil, seriam tão mais felizes.
Mas eu sou apenas uma moça de 25 anos, não tão gorda nem magrela (com uma barriguinha de cerveja que me denuncia, rsrsrs)...
----->>> ela não é linda? eu acho!